ATENÇÃO

Ao entrar neste blog estará sujeito a pensar.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Vício por imposição

          
   


    Cada geração tem uma característica. Cada época tem uma marca. Fica mais fácil analisar quando a época já passou, pois se pode ver a história de uma visão panorâmica. Mas permitam-me arriscar a dizer um pouco sobre um comportamento que analiso em nossa sociedade atual.
    Falarei sobre o vício por imposição. Aquele que – geralmente - não é visto com maus olhos, porém isso não muda o fato de ser extremamente danoso. Assim como todo vício e seus processos, este também segue o mesmo padrão. Desde experimentar para saber como é até ver a vida ir embora.
     A televisão. É comum em pessoas que vivem no século XXI gostem de assisti-la. Alguns não exigem explicação para o que nela é dito, outros só acreditam desde que criem uma demonstração lógica e tenha argumentos de pessoas que dizem entender do assunto.
     Começa com um jornalzinho aqui, um capítulo da novela das nove ali, um programa de fofoca acolá, e quando se vê está atado. E insistem por algum motivo em ficar presos. É certo que com a velocidade das informações, se houver algo muito ruim ou muito bom todos saberemos.
     Não venha com desculpas do tipo: Assisto para me informar. Antes, não dê também essa desculpa para si. Pare de falar que novela é a realidade, a maioria das pessoas que você vê quando sai na rua são feias, e curiosamente na novela só há príncipes e princesas. Pare de idolatrar pessoas que tiveram sorte na vida, e que juntando com um pouco de esforço e instrução aparecem na sua televisão.Eles controlam tudo, até como os vêem. Dizem que são especiais, intocáveis, amados, lindos, inteligentes, encantados, únicos, perfeitos. E são? Depois que eles dizem sim.
     Por favor, não fique com raiva de mim, sei que ama seu ídolo, ele é lindo. Também não diga que escrevo por inveja, no mínimo compaixão.
     Mas no fim, não passa de imposição. E pode acreditar, tem um monte de gente enchendo o bolso de dinheiro só para dizer aonde você vai comer quando sair com seu namorado, as gírias que você vai usar no dia-a-dia - o que só faz você empobrecer cada vez mais seu vocabulário e ser menos culto - sobre o que você vai falar com seus amigos na sexta-feira, do que vai rir no sábado, qual acidente causou mais mortes, que estilo de roupa deve comprar e em qual loja. Enfim, o que quiserem dizer.
     Se querem medo: Rio de Janeiro, a 2ª cidade mais violenta do Brasil. Se querem paz: Investimentos com policiais no Estado do Rio de Janeiro ultrapassa 2 bilhões de reais. Se querem sangue: Homem é morto com 20 facadas e pauladas na cabeça. Se querem “cultura”: Escolas de samba festejam celebração de convênio inédito no Estado. Enfim, dizem o que convém (a eles, é claro). O poder discricionário está nas mãos deles. Avaliam a conveniência e a oportunidade não como o Estado, de acordo com o bem comum e o interesse social, mas de acordo com o que vai vender mais e o interesse particular de alguns.
     Selecionam a mentira mais bem contada e colocam para seus fãs cegos.
     Eu sinceramente gostaria de entender o que faz as pessoas se colocarem na posição de indefesas e ficarem horas em frente a uma tela se envenenando. Mas parece que se conscientizar e selecionar aquilo que irão absorver exige muito de sua capacidade mental.
     Realmente, "quem pensa por si mesmo é livre e ser livre é coisa muito séria", dizia o poeta.
     Mas é involuntário, é vício por imposição. O sistema coloca isso como uma necessidade, e não é que funciona? Acreditam. Tem os que se acham espertos e “selecionam” o que vêem, realmente, selecionam quem vai os enganar. É um jogo de conveniência, pura venda de produtos, onde o vendedor faz de tudo para obter o lucro. Os fins justificam os meios sim.
     De que importa tudo isso, é melhor ir lá porque daqui a pouco começa Big Brother e você não pode perder quem vai ser eliminado.
     Se acha que não é um viciado, tente ficar um tempo longe. Tente não assistir a tão querida televisão por uns meses, a menos que ela seja tão “necessária” assim na sua vida. Garanto que não é.



                                                                                                          Bruno Cezar
       











sábado, 12 de fevereiro de 2011

Ler devia ser proibido



Ler devia ser proibido

    A pensar fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido.
    Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para a realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Dom Quixote e Madame Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tornou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos.
    Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.
    Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: o conhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?
    Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção; pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.
    Não, não dêem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus filhos, pode levá-los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que faz do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias, pode estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.
    Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.
    O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas lêem por razões utilitárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédios, projetos, manuais etc. Observem as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incomodas. E esse o tapete mágico, o pó prilimpimpim, a máquina do tempo. Para o homem que lê não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é mais subversivo do que a leitura?
    É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metrôs, ou no silêncio da alcova...ler deve ser coisa rara, não para qualquer um.
    Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos.


                                                                         Guiomar de Grammon

Casto Sentimento










Casto sentimento

Ter uma amizade, que coisa boa ter uma
Saber que por mais difícil que seja a hora
Aquela pessoa estará ali para o que precisar
Por mais difíceis que sejam os dias, ela estará do seu lado.

Poder conversar e rir sem falar nada engraçado
Mas pelo simples fato de estar junto, gera felicidade.
E também conversar coisas sérias, e ser respeitado
Independentemente de concordância.

Ter certeza que poderá sempre contar com alguém
Dando o melhor de si quando precisar de um conselho.
Nem sempre são os melhores, mas isso não importa
Afinal quem é o dono dos melhores conselhos?

Aquela pessoa que te liga porque está com saudade,
Que te procura quando está sumido.
Aquela que você conhece, qualidades e defeitos.
Que olha pra você e sabe quando aconteceu algo.

Poder falar tudo que sentes e chorar quando preciso
Ser ouvido e aturado, compreendido e amado.
Nunca rejeitado, ou menosprezado,
Por qualquer que seja a limitação.


Essa é a amizade que eu quero ter,
Poder dar e também receber.
Com o amor de Deus, que nos ensina a viver
Buscar melhorar e amadurecer.


                                                                                       Bruno Cezar

Doce querer




Doce querer


Chega de mansinho
devagar vem
Bate a porta, mania morta
Louca pra ressurgir

Se aproxima, armada vem
E me convida pr’essa estrada
Que um dia eu deixei pra trás

Deu bobeira, já partiu
Pra dentro de você
Esperando te incita
Não quer mais essa prisão

Dizer não é boa escolha
Mas nem sempre a procedente
Contamina lentamente

Vejo o que vivi
E até os mais viris
Se deixaram seduzir
Pelo laço dessa atriz

Se a sua natureza
Te impede de lutar
Acredite no amor
Ele te preencherá.




                                                                                                Bruno Cezar

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Desejo





Desejo 

“Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, que não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem despertar.

Desejo também que tenhas amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,
Mas não substituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque é fácil.
Mas com os que erram muito e irremediavelmente
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureças depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
 (...)
Desejo que você descubra,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça  o João de barro
Erguer triunfantemente o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada

Desejo também que você plante uma semente,
Por  mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga “Isso é meu”,
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem culpa

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar”.


                                                                        Vitor Hugo

Eu, etiqueta




Eu, etiqueta
Em minha calça está grudado um nome
Que não é meu de batismo ou de cartório
Um nome... estranho
Meu blusão traz lembrete de bebida
Que jamais pus na boca, nessa vida,
Em minha camiseta, a marca de cigarro
Que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produtos
Que nunca experimentei
Mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
De alguma coisa não provada
Por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
Minha gravata e cinto e escova e pente,
Meu copo, minha xícara,
Minha toalha de banho e sabonete,
Meu isso, meu aquilo.
Desde a cabeça ao bico dos sapatos,
São mensagens,
Letras falantes,
Gritos visuais,
Ordens de uso, abuso, reincidências.
Costume, hábito, premência,
Indispensabilidade,
E fazem de mim homem-anúncio itinerante,
Escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É duro andar na moda, ainda que a moda
Seja negar minha identidade,
Trocá-lo por mil, açambarcando
Todas as marcas registradas,
Todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
Eu que antes era e me sabia
Tão diverso de outros, tão mim mesmo,
Ser pensante sentinte e solitário
Com outros seres diversos e conscientes
De sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio
Ora vulgar ora bizarro.
Em língua nacional ou em qualquer língua
(Qualquer, principalmente.)
E nisto me comprazo, tiro glória
De minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
Para anunciar, para vender
Em bares festas praias pérgulas piscinas,
E bem à vista exibo esta etiqueta
Global no corpo que desiste
De ser veste e sandália de uma essência
Tão viva, independente,
Que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
Minhas idiossincrasias tão pessoais,
Tão minhas que no rosto se espelhavam
E cada gesto, cada olhar,
Cada vinco da roupa
Sou gravado de forma universal,
Saio da estamparia, não de casa,
Da vitrine me tiram, recolocam,
Objeto pulsante mas objeto
Que se oferece como signo de outros
Objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mas artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome noco é Coisa.
Eu sou a Coisa, coisamente.
(Carlos Drummond de Andrade)